7 de fev. de 2011

Encontrado mais antigo vestígio de uso de ferramentas por ancestral humano

Ossos com marcas de corte por ferarmenta de pedra datam de mais de 3 milhões de anos atrás
Um dos ossos de 3 milhões de anos encontrados na Etiópia. Dikkia Research Project/Divulgação


Uma equipe internacional de cientistas encontrou evidências de uso de ferramentas e do consumo de carne vermelha datando de 3 milhões de anos atrás, quase 1 milhão de anos mais cedo do que  indicavam os vestígios mais antigos encontrados anteriormente. A descoberta é descrita na edição desta semana da revista Nature.
A equipe do pesquisador Zeresenay Alemseged, da Academia de Ciências da Califórnia, fez a descoberta em Dikkia, na Etiópia. Os cientistas encontraram ossos fossilizados com marcas de corte por ferramentas, feitas quando a carne do animal foi separada do esqueleto e quando o osso foi quebrado para a extração do tutano.
Os ossos datam de 3,4 milhões de anos atrás e são a primeira evidência de que a espécie a que pertenceu o famoso fóssil hominídeo Lucy, o Australopithecus afarensis, usava ferramentas e comia carne.
Os ossos marcados de Dikkia foram descobertos a 200 metros do local onde o grupo de Alemseged encontrou o esqueleto de Selam, uma fêmea de australopiteco apelidada de" filha de Lucy", com 3,3 milhões de anos. A descoberta de Selam foi feita em 2000.
Detalhe das marcas de cortes encontradas em osso fossilizado na Etiópia. Divulgação

A localização e a idade dos ossos cortados indicam, segundo os pesquisadores, que um membro da espécie A. afarensis infligiu as marcas, já que nenhuma outra variedade de hominídeo vivia nessa parte da África, na época.
Ambos os ossos cortados e marcados descobertos vieram de mamíferos. Um deles é um fragmento de costela de um animal do tamanho de uma vaca, e o outro, o fêmur de uma criatura do tamanho de uma cabra.
"A maioria das marcas tem características que indicam ferramentas de pedra", disse, em nota, Curtis Marean, do Instituto de Origens Humanas da Universidade Estadual do Arizona, que trabalhou na identificação dos sinais. "As ações que criaram as marcas incluem corte e raspagem para a remoção de carne, e percussão do fêmur para quebra".
Embora os autores do trabalho na Nature estejam convictos de que as marcas indicam o uso de ferramentas afiadas para extrair alimentos do osso, não é possível afirmar que as ferramentas em si eram pedras naturalmente pontiagudas ou ferramentas trabalhadas pelos australopitecos.
Até agora, nenhum instrumento de pedra lascada desse período foi descoberta em Dikkia. Isso pode indicar que os moradores apenas usavam ferramentas de oportunidade, encontradas no ambiente. Mas há outra explicação possível.
Como a região de Dikkia é dominada por pedras pequenas e seixos, pouco adequados para o uso como ferramenta, pesquisadores especulam que os australopitecos poderiam andar carregando as pedras mais adequadas para uso, trazendo-as de outros lugares.
FONTE: ESTADÃO